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O que é a Dark Web? Deverei utilizá-la?

A Dark Web é uma região da internet que a maior parte das pessoas nunca visitará, mas onde existe imenso conteúdo. Muito além do que se encontra no Google, no Facebook ou no OLX, e “enterrada” mais abaixo ainda do que contas de e-mail esquecidas e inacessíveis do Hi5, está uma internet subterrânea só acessível com ferramentais especiais. O que é a Dark Web, afinal? Como se pode visitá-la? E vale a pena correr esse risco?

22 de mai. de 2023

14 mín. de leitura

man exploring the dark web on his phone

A Dark Web (“rede escura” ou “obscura”) refere-se a um conjunto de websites de difícil acesso vocacionados para atividades ilícitas. Não existem selos de certificação Dark Web ou Deep Web; trata-se apenas de expressões cunhadas pela imprensa especializada para designar fenómenos específicos da World Wide Web.

O que é a Dark Web?

Definição de Dark web

A Dark Web é uma rede web sobreposta à internet (dela fazendo parte) que só pode ser acedida através de software ou configurações específicas, estando os endereços IP dos websites desta rede ocultos.

A Dark Web caracteriza-se pelo secretismo das comunicações e atividades e pela inacessibilidade a quem não esteja a utilizar as ferramentas necessárias para aceder à mesma. A quase totalidade das comunicações neste espaço são encriptadas e os endereços IP dos visitantes também são ocultados.

Dark web browser

O principal software para aceder à Dark Web continua a ser o Tor. O nome deriva da sigla do projeto original “The Onion Router”. “Onion” significa “cebola” (uma imagem que continua a fazer parte do logótipo do Tor) e refere-se assim à navegação em várias camadas na qual o projeto se baseou desde o início. A comunicação na rede Tor é encriptada de forma múltipla e redirecionada de forma aleatória através de vários servidores e pontos de comunicação. Torna-se muito difícil ou quase impossível a terceiros detetar a origem, ou a identidade de um utilizador do Tor.

Note-se, porém, que a utilização do Tor, em si mesma, não é oculta. Um servidor que recebe um “request” consegue identificar que o visitante está a utilizar o Tor, embora não consiga identificá-lo. É por isso, entre outros exemplos, que a Wikipédia não permite a edição ou revisão de artigos a utilizadores de Tor – certamente mais vocacionado para aceder à Deep Web e à Dark Web que à Surface Web. De qualquer forma, utilizando uma VPN em conjugação com o Tor é possível acrescer mais uma camada extra de privacidade à navegação online. Saiba mais sobre redes privadas virtuais na página “O que é uma VPN”.

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Motores de Pesquisa para Navegar na Dark Web

O Google, o Bing e outros motores de pesquisa comuns não funcionam na Dark Web. Vejamos os principais exemplos de ferramentas válidas.

  • DuckDuckGo: um dos motores de pesquisa menos intrusivos relativamente aos dados dos seus utilizadores.
  • Torch: o mais antigo motor de pesquisa ligado à Dark Web, apresentando-se como “the Tor search engine” (o motor de pesquisa do Tor) e daí retirando o seu nome.
  • Candle: evoca a simplicidade do Google, mas virado para a web profunda.
  • Haystack: com cerca de 1,5 biliões de páginas indexadas, dedica-se à proteção dos dados pessoais dos utilizadores como o DuckDuckGo.
  • Ahmia: além dos resultados de pesquisa, traz estatísticas, artigos de opinião e outros elementos sobre a rede Tor.
  • The Hidden Wiki: embora seja mais um diretório que um motor de pesquisa, é um recurso muito útil para explorar a Dark Web.

Sites na Dark Web

Considera-se que um site pertence à Dark Web se não se lhe pode aceder através dos browsers ou dos motores de pesquisa habituais.

Existe uma perceção de que todos os sites da Dark Web estão ligados a atividades criminosas, mas isso não é verdade. Embora grande parte destes sites envolvam, de facto, temáticas relacionadas a atividades ilegais, qualquer página que não possa ser visitada através dos meios comuns pode considerar-se, tecnicamente, como parte da Dark Web.

O que é a Deep Web

A Deep Web (“rede profunda”) é o conjunto de websites e conteúdos web que não são indexados pelos motores de pesquisa, como o Google ou o Bing, e que como tal não estão acessíveis a qualquer pessoa. O termo que se lhe opõe é “surface web”, ou “rede de superfície”, que está acessível a qualquer pessoa com ligação à internet.

Da Deep Web fazem parte, por exemplo, websites que só podem ser acedidos com a ajuda do Tor, um software de comunicação anónima para atividades online. Mas também fazem parte todos os outros conteúdos online e não acessíveis que se possam imaginar. Todos os e-mails arquivados na sua conta Gmail fazem parte da Deep Web; eles estão online, mas o seu conteúdo não é visível em nenhum motor de pesquisa. O mesmo acontece com as fichas de cliente de todos os serviços online, registos médicos arquivados em sistemas fechados mas que podem ser acedidos por quem tiver conta de utilizador e password, etc. As suas conversas no WhatsApp também fazem parte da Deep Web.

Qual a diferença entre Deep Web e Dark Web?

dark web vs deep web

Desde há cerca de uma década que as duas expressões têm vindo a ser utilizadas como sinónimos por um grande número de websites, blogs e jornais. Quanto menos especializado for o website, maior a probabilidade de se registar confusão.

Na prática, a Dark Web é uma pequena parte da Deep Web. Os números são sempre incertos, mas estima-se que atualmente existam apenas 65 000 websites que possam ser catalogados como Dark Web, e estando apenas 8000 ativos.

A tabela seguinte simplifica os conceitos:

SURFACE WEB

DEEP WEB

DARK WEB

ACESSIBILIDADE

Livre

É necessário conhecer o URL exato e possuir credenciais de acesso

É necessário conhecer o URL exato e usar um browser especial

BROWSERS

Acessível por qualquer browser

Acessível por qualquer browser

Só pode ser visitado usando um browser especial

MOTORES DE PESQUISA

Acessível via motores de pesquisa (Google, Bing, etc.)

Normalmente não é indexada por motores de pesquisa

Invisível para motores de pesquisa

EXEMPLOS

Facebook, Sapo.pt, Amazon, blog da NordVPN

Bases de dados e páginas de funcionários de empresas, universidades e outras organizações

Sites de “mercado negro”, serviços de e-mail para uso exclusivo na rede Tor

Note-se que os governos têm vindo a apertar o cerco à Dark Web. Ficou célebre a cassação do Silk Road (baseado na rede Tor) por parte do FBI (Estados Unidos), em outubro de 2013 e após dois anos de atividade, tendo sido um dos mais ativos e perigosos websites de serviços de crime. O fundador foi condenado a prisão perpétua.

Visitar a Dark Web é altamente perigoso e deve ser evitado sempre. Para além da exposição a conteúdos chocantes e criminosos, a falta da regulação da Dark Web faz com que esta também seja propícia a ataques cibernéticos.

Para que é utilizada a Dark Web?

A Dark Web tem vindo a ser utilizada para diversos fins – legítimos e ilegítimos. Para informação detalhada sobre o que pode lá encontrar, consulte o nosso estudo de caso Dark Web (disponível em inglês), onde pode encontrar os preços de venda de dados pessoais passíveis de ser usados para cometer roubo de identidade, entre outros elementos.

Eis alguns exemplos do que se pode encontrar na Dark Web:

  • Meios de comunicação social independentes, sem ligações partidárias e sem agendas políticas;
  • Fóruns onde se pode debater os assuntos mais diversos, como o paranormal;
  • Bibliotecas online;
  • Publicações científicas disponíveis gratuitamente, sem paywall.

Naturalmente, esta área da internet totalmente encriptada abre espaço à proliferação de atividades criminosas, como:

  • Tráfico (compra e venda) de drogas;
  • Tráfico de armas;
  • Disseminação de discurso de apelo ao ódio e à violência;
  • Disseminação de instruções técnicas e partilha de materiais necessários para cometer atos terroristas ou violentos;
  • Venda de dados bancários roubados;
  • Etc.

E quanto à ilegalidade da Dark Web? Em geral, o funcionamento e o acesso à rede não são considerados ilegais, no sentido em que se trata de uma extensão da world wide web – embora os países que colocam mais restrições à web em geral também procurem estar mais atentos às atividades nesta rede específica.

O certo é que a Dark Web pode ser usada para fins legais ou ilegais, tal como a internet aberta – tudo depende, como sempre, de quem estiver a utilizá-la.

Quão perigosa é a Dark Web?

Recorde-se a definição acima descrita de Deep Web e Dark Web, e a distinção entre os dois conceitos. Seguramente que o acesso a websites Dark Web vai além dos perigos da internet mais comuns, pois poderá pô-lo em contacto com criminosos perigosos.

Mas recorde-se também que a distinção entre os dois conceitos é meramente académica. O perigo de aceder a um website obscuro, mesmo com a ajuda do Tor, depende unicamente da natureza da sua atividade e dos respetivos promotores. Se a intenção de aceder a um website com o Tor passa por partilhar informação com ativistas políticos perseguidos por governos de ditaduras, o perigo será certamente menor do que entrar em contacto com possíveis traficantes de armas. Todavia, recomenda-se sempre uma atitude de cautela.

Vejamos alguns dos perigos concretos que o podem atingir ao visitar a Dark Web.

Software malicioso

  • Botnets: as botnets são redes de computadores infetados e usados, pelo hacker que conseguiu controlá-los, para lançar ataques DDoS. Não deixe que o seu aparelho, infetado durante um acesso a este rede, venha a fazer parte de uma botnet. Existem hackers na Dark Web que até oferecem botnets como serviço, com tabelas de preços a quem quiser comprar uma.
  • Ransomware: o risco de ser infetado com malware é elevado, até porque é difícil perceber se um site é seguro ou não. As probabilidades de ser infetado com ransomware e perder o acesso ao seu computador ou aparelho mobile são consideráveis. Esta é uma formas de hacking mais destrutivas, sendo normalmente apontada a empresas e organizações e implicando resgates na ordem dos milhares ou milhões de dólares.
  • Golpes e esquemas: o risco apontado quanto a ransomware é válido para os mais diversos tipos de golpe. É muito mais difícil identificar uma manobra de phishing num ambiente estranho como o da Dark Web. O seu aparelho pode ser infetado com qualquer tipo de malware, abrindo a porta ao roubo dos seus dados ou à manipulação do seu computador – e poderá nunca vir a aperceber-se disso.

Conteúdo inapropriado

  • Partilha de ficheiros ilegais: filmes, livros, software e outro conteúdo pirateado é partilhado largamente na Dark Web.
  • Grupos de hacking: a Dark Web é a área de comunicação por excelência de hackers e cibercriminosos. Imagine que visita uma grande cidade mas tenciona evitar certos bairros conhecidos pelas suas altas taxas de criminalidade. Pensaria duas vezes antes de ir até lá, certo? A Dark Web é o bairro problemático da internet. Certos fóruns e sites são autênticos shoppings de criminalidade, com preços por vezes tabelados em criptomoedas.
  • Pornografia ilegal: o conteúdo pornográfico armazenado e partilhado na dark web torna-se mais difícil de ser rastreado pelas autoridades policiais. Este tipo de conteúdos, pela sua natureza ilegal e violenta, pode ser muito mais chocante que os que se encontram na internet aberta.
  • Terrorismo: é na Dark Web que os grupos terroristas tendem a encontrar-se e comunicar, pois fazê-lo na internet aberta seria como fazê-lo à luz do dia, na praça do Marquês de Pombal ou na Avenida dos Aliados.

Outros perigos

  • Dados roubados: quando hackers roubam dados pessoais, através de ciberataques, vazamentos ou outros meios, poderão vender essa informação a outros criminosos. Ao aceder à Dark Web, a integridade dos seus dados estará sob forte ameaça.
  • Tráfico de substâncias ilícitas: poderá encontrar traficantes de drogas durante as suas visitas à Dark Web. E mesmo que esteja a usar o browser Tor, existe a possibilidade de que essas pessoas venham a saber mais sobre si do que desejaria

É ilegal aceder à Deep Web e à Dark Web?

A Deep Web não é ilegal nem faria sentido que o fosse. Seria difícil usar a “web de superfície” sem ela. A sua conta de Gmail, por exemplo, faz parte da Deep Web; só está acessível para si, e não para estranhos – mas está alojada na internet. O mesmo sucede com as de contas de qualquer serviço na cloud.

Não é ilegal aceder à Dark Web. Antes de mais nada, trata-se de uma plataforma concebida para garantir o anonimato de quem a utiliza. Utilizando o navegador Tor, a privacidade do utilizador está efetivamente assegurada. Contudo, dada a proliferação de atividades ilegais nesta área da web, é aconselhável manter-se afastado.

Como aceder à Dark Web?

Recomendamos que não use a Dark Web a não ser que seja absolutamente necessário. Esta é uma região arriscada da internet.

O acesso à Dark Web exige um navegador específico, sendo o browser Tor o mais popular. Funciona como um navegador web normal mas é mais lento, devido às várias camadas de encriptação utilizadas. Para fazer pesquisas deverá utilizar um motor de pesquisa específico, como o DuckDuckGo, que indexa sites com o domínio .onion, usado por todos os sites Tor. Caso contrário, só poderá aceder a um site se souber antecipadamente o seu endereço exato.

Tenha em atenção que o browser Tor, embora criado com o objetivo de fornecer uma ferramenta de anonimato, ganhou uma reputação negativa devido à sua ligação ao conjunto da rede Tor e a tudo o que esteja relacionado com a Dark Web. Isto apesar de o Tor estar disponível livremente para toda a gente, já desde 2008.

tor vs vpn

Porque pesquisam as pessoas sobre a Dark Web?

Existem diferentes razões para as pessoas pesquisarem sobre a Dark Web. De acordo com um estudo da NordVPN, 49% de todas as pesquisas no Google vindas dos países anglo-saxónicos (EUA, Reino Unido, Canadá) sobre a Dark Web referem-se apenas a formas de lhe tentar aceder. 50,2% das pesquisas visam compreender, simplesmente, o que é a Dark Web.

Apenas 0,5% das pesquisas se referem a pessoas que tentam saber se os seus dados pessoais estão para venda. E apenas 0,3% das pesquisas se referem a pessoas à procura de artigos ilegais.

Noutros países, as percentagens diferem mas sempre com predominância para a procura de informação sobre o conceito. Na Índia, cerca de dois terços das pesquisas indagam saber o que é a Dark Web; no Brasil, três quartos querem saber como aceder.

Como posso saber se os meus dados pessoais foram parar à Dark Web?

Vazamentos de dados ou ciberataques direcionados a sites e plataformas oficiais podem fazer com os que os seus dados sejam expostos. Recorde-se que os dados de clientes da TAP foram comprometidos e divulgados online, na sequência de um ataque. Diversas investigações revelaram que a Dark Web é o mercado ideal para cibercriminosos comprarem e venderem tais dados.

A NordVPN dispõe de uma ferramenta para verificar esta situação. A funcionalidade Dark Web Monitor pode fazer “scans” a fóruns e sites na Dark Web e localizar os seus dados, caso estejam presentes.

Posso ser localizado na Dark Web?

Nem a localização nem a identidade real do utilizador da Dark Web podem ser identificados. O navegador Tor baseia-se no conceito de encriptação em camadas que torna quase impossível conseguir informação sobre cada utilizador. O tráfego web é redirecionado através de vários servidores, dificultando a identificação da origem de um pedido ou comunicação.

Não precisa de usar a Dark Web para conseguir privacidade online

Recorrer à Dark Web é como nadar em águas infestadas de tubarões com uma ferida aberta, convidando ao ataque. Dada a ausência de regulação, é impossível saber o que vai encontrar. Comprar algo na Dark Web é como jogar na sorte; a compra não é feita a uma empresa registada, não há termos de utilização nem forma de obrigar o vendedor a enviar-lhe o que comprou. É a lei da selva.

A alternativa é descarregar uma VPN. Pode usá-la para contornar medidas de censura, empresariais ou de governos. E os melhores serviços de VPN não obrigam a navegar a velocidades lentas para conseguir segurança online.

A NordVPN permite-lhe navegar na internet com privacidade e sem os inconvenientes e riscos da Dark Web. Tudo o que é necessário é uma subscrição. A aplicação da NordVPN para iOS inclui também a já citada funcionalidade Dark Web Monitor, que envia alertas se os seus dados pessoais forem expostos.

A Proteção Contra Ameaças Pro da NordVPN é outra ferramenta útil. Ajuda a evitar websites suspeitos, conhecidos por disseminarem malware, e bloqueia rastreadores e anúncios intrusivos e incómodos.

A segurança online começa com um clique.

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Laura Klusaitė

Laura Klusaitė é uma gestora de conteúdos curiosa sobre tecnologia e privacidade online. Aprende uma coisa nova todos os dias e partilha esse conhecimento com leitores de todo o mundo.