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O que é o Metaverso e como funciona?

O metaverso tem vindo a ser descrito como o futuro da internet, uma experiência de realidade virtual que combina trabalho, entretenimento e socialização. O entusiasmo em torno do conceito tem vindo a desenvolver-se, mas em que consiste exatamente o metaverso? Como funciona? Será uma ameaça à privacidade?

23 de fev. de 2023

9 mín. de leitura

What is Metaverse

Metaverso: o que é?

Metaverso é a aplicação de um conjunto de tecnologias, como realidade virtual e realidade aumentada, reproduzindo a realidade “física”, por assim dizer, em ambiente virtual, de maneira semelhante à que vivemos no mundo real. Consiste numa evolução da internet, convertida num ambiente digital que reproduz a realidade física e vai além dela. As pessoas poderão criar avatares próprios (um “upgrade” tridimensional da sua conta numa rede social), conversar com outras pessoas, jogar, comprar produtos e serviços, entre outros cenários.

O conceito tem vindo a ser impulsionado principalmente por Mark Zuckerberg, fundador do Facebook. A própria mudança de nome da sua empresa, adotando o nome “Meta”, visa evitar que metaverso e Facebook se confundam e associar a marca não ao Facebook (o passado) mas ao metaverso (o futuro).

Como funciona o metaverso?

O metaverso funciona de forma similar à internet, mas com mais sinergias entre diferentes serviços e sites e com um alto nível de integração com realidade virtual.

Espera-se que o acesso ao metaverso substitua os aparelhos atuais (computador, telemóvel, etc.) por dispositivos de realidade virtual (óculos VR, por exemplo) e que as páginas web sejam adaptadas de forma a serem compatíveis com realidade virtual.

Em alternativa, espera-se que se trate de uma fusão entre a realidade física e o ciberespaço, onde as pessoas possam viver, trabalhar, socializar e criar sem precisarem de alternar entre dispositivos eletrónicos e espaços físicos.

A tecnologia para tornar possíveis estes conceitos está a ser desenvolvida; contudo, o próprio conceito é ainda um conjunto de intenções, mais do que algo concreto. O jornal britânico Financial Times, num artigo publicado a 16 de fevereiro de 2023, traduz esta diversidade de perspetivas mesmo entre especialistas. A autora, Jemima Kelly, citou Robbie Yung, chefe executivo da Animoca Brands (start-up dedicada a esta área) e Dave Karpf, professor da Universidade George Washington. As divergências de conceito entre ambos mostram como a ideia está longe de estar claramente definida.

O que procuram as pessoas no metaverso

O site especializado norte-americano Martech.org executou um estudo, baseando-se em cerca de 400 pessoas, para descobrir o que procuram as pessoas quando entram no Metaverso. Atualmente, a maioria (68%) procura música; outros temas pesquisados incluem compras, eventos online, viagens e videojogos.

Metaverso: tecnologias

O metaverso dependerá da conjugação de diferentes tecnologias.

Realidade virtual e realidade aumentada

O Meta Quest 2, comercializado pela Meta, é um dos mais conhecidos aparelhos de realidade virtual a disponibilizar experiências nesta área. Prevê-se que os wearables venham a ser uma parte importante neste processo de criação de uma realidade imersiva, apesar do falhanço prévio do Google Glass.

Modelação 3D

Mark Zuckerberg descreve planos para uma tecnologia capaz de mapear um espaço à volta de um utilizador, por exemplo com recurso a diversas câmaras na sua casa. O objetivo é, potencialmente, criar uma experiência mais física no mundo virtual, incorporando elementos do ambiente físico no espaço virtual – uma espécie de “upgrade” dos videojogos interativos popularizados pela Nintendo.

Internet das Coisas

A Internet das Coisas (IdC, também conhecida pela sigla IoT, do inglês “Internet of Things”) é o ecossistema dos nossos dispositivos inteligentes conectados. É praticamente inevitável, à medida que os nossos computadores, televisões, eletrodomésticos e outros se ligam entre si, que a IdC tenha um papel nesta mistura progressiva entre as realidades física e virtual.

Blockchain

A tecnologia blockchain consiste num registo descentralizado que torna difícil ou praticamente impossível alterar dados de forma retrotrativa.

O conceito está na base da tecnologia que possibilita as criptomoedas e os NFT, e tem-se defendido não só que poderia sustentar propriedade privada no metaverso, mas até substituir processos tradicionais na realidade “física”. Por exemplo, o papel do registo notarial de compra e venda de casas poderia ser substituído pela fidelidade e transparência pública conferidas por uma transação com recursos a blockchain. O supra citado Robby Yung, questionado pela colunista Jemima Kelly sobre o que poderia vir a ser o metaverso, indicou que seria basicamente “internet+blockchain”. Para saber mais sobre blockchain o que é e como funciona, clique no link anterior.

Porém, é possível que o metaverso não evolua por este caminho. Não só porque a segurança das NFTs se tem revelado baixa, mas também porque o conceito de transparência e acesso livre associados à blockchain vai contra a exploração do ambiente por empresas que visam os seus interesses em primeiro lugar. O histórico da Meta sugere que a empresa preferiria guardar a informação de suporte de forma secreta nos seus servidores, em vez de a submeter a consulta pública.

Exemplos de utilização

Alguns cenários de utilização do metaverso são apenas possibilidades; outros já estão postos em prática.

Trabalho: imagine uma reunião imersiva, em realidade virtual, com os avatars digitais de colegas, parceiros ou clientes. Mais uma vez, se parece ficção científica, o mesmo pode ser dito de quem tivesse previsto a “explosão” das redes sociais na década de 1990.

Entretenimento: os concertos musicais já levados a cabo no Fortnite são um primeiro passo.

Educação: aulas à distância com realidade virtual e realidade aumentada, sem os incómodos do “clássico” Zoom.

Socialização: as redes sociais poderão parecer um meio obsoleto e estático para contactarmos com familiares e amigos, comparados com a possibilidade de nos reunirmos à distância numa mesma sala virtual, cada um com o seu “headset”.

Metaverso: como entrar?

No momento atual, a indefinição do conceito permite-nos estabelecer o óbvio, quando à questão de como entrar no metaverso : não é possível, porque ele não existe.

O que temos são várias experiências do tipo metaverso, mas que existem separadamente, em diferentes plataformas e acessíveis através de dispositivos não integrados. Por exemplo, encontrar amigos na plataforma Horizon Worlds da Meta com óculos VR, ou usar um computador ou uma consola para assistir a um concerto musical no Fortnite (que originalmente era um “simples” videojogo).

O que a Meta está a tentar fazer, com efeito, é investir grandes quantidades de dinheiro no desenvolvimento de um ambiente do tipo metaverso, mas que por enquanto continua a ser uma mera possibilidade teórica.

O dinheiro no metaverso

Há imensas possibilidades de gerar receita no metaverso. Por um lado, as clássicas: hardware, software, alojamento web, servidores, etc. Por outro, as possibilidades inerentes ao novo espaço: anúncios dentro do metaverso, bilhetes para concertos ou outros espetáculos virtuais, “ads ons” e “upgrades” para os avatares digitais (semelhantes às skins que se vendem atualmente para os mais diversos videojogos), etc.

O objetivo de Mark Zuckerberg e da Meta será, naturalmente, poder facilitar o conjunto da experiência, o próprio ambiente onde tudo acontece – como fez com o Facebook.

Metaverso: prós e contras

Importa comparar os benefícios do metaverso com alguns riscos. Sintetizando os prós e contras, é fácil visualizar a “big picture” sobre esta matéria:

Prós

  • Conexão com a família, amigos, colegas, parceiros, etc., onde quer que estejamos;

  • Acesso a experiências de entretenimento, onde quer que estejamos;

  • Experiências educativas online mais imersivas e dinâmicas;

  • Estabelecimento facilitado de práticas de teletrabalho mais dinâmicas e eficientes.

Contras

  • Potencial para ações de violação de privacidade e recolha de dados pessoais em grande escala;

  • Os utilizadores poderão estar pouco informados sobre os riscos que correm em experiências imersivas em realidade virtual;

  • Dependência de tecnologia potencialmente dispendiosa;

  • Desencoraja experiências interpessoais no mundo real, isto é, analógicas.

Metaverso: que futuro?

O metaverso é parte do futuro, mas poderá nunca vir a concretizar-se. É certo que o blockchain, a realidade virtual e demais tecnologias serão parte da evolução da internet, mas é possível que a ideia de uma única plataforma VR integrada possa nunca vir a ser desenvolvida.

A multiplicação de concorrentes dificulta. A Amazon e a Apple têm vindo a desenvolver ambientes virtuais 3D; não parece existir vontade de se tornarem compatíveis e nenhuma delas parece capaz de criar um monopólio (como o Facebook se tornou, na sua época, em termos de redes sociais).

A desconfiança do público também terá uma palavra a dizer. Um estudo da NordVPN aponta que metade dos inquiridos, nos Estados Unidos, estavam preocupados com a possibilidade de roubo de identidade no metaverso, e 45% preocupam-se com a proteção de dados em tal ambiente.

Esta desconfiança contribuirá para o desinteresse do público. De acordo com o acima referido artigo do Financial Times, o Google Trends indica que as pesquisas por “metaverso” caíram 80% nos últimos 12 meses.

Para onde foi o entusiasmo?

Alguns opinion makers apontam também que o metaverso arrisca-se a ser pouco mais que “um shopping 3D gigante, com fake news e anúncios desinteressantes”. Estas críticas, naturalmente, revelam a perda de prestígio que se abateu sobre a marca Facebook ao longo da última década, por diversos motivos (escândalo Cambridge Analytica, perda de relevância para utilizadores e empresas, etc.).

Mas elas apontam para algo mais profundo: a perda daquele entusiasmo acrítico que Silicon Valley e os seus desenvolvimentos tecnológicos geravam na década de 2000, no advento da World Wide Web. E isso pode criar resistências que outros serviços online, a começar pelo próprio Facebook, não conheceram no seu lançamento.

Seja como for, a internet já existe há tempo suficiente para sabermos que certas circunstâncias manter-se-ão sempre, e a necessidade de segurança é uma delas. Para proteger os seus dados e a sua privacidade, o melhor será usar sempre uma VPN, criando um túnel de encriptação que o defenda contra bisbilhoteiros e cibercriminosos – seja no metaverso, com ou sem VR e blockchain, ou na internet “tradicional” a duas dimensões.

A segurança online começa com um clique.

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Agnė Augustėnė

Agnė Augustėnė é uma gestora de conteúdos, apaixonada por segurança cibernética. Entende os benefícios da tecnologia e as ameaças que todos enfrentamos online; através do seu trabalho está a construir uma internet mais segura e privada.